O desconforto causado pela hiperêmese gravídica, condição que se caracteriza pelo excesso de enjoo e vômitos na gravidez, vai muito além do mal estar. Segundo um estudo realizado pela Universidade de Plymouth, no Reino Unido, a doença – que afeta 1,5% das gestantes, mexe com a cabeça das gestantes e pode até gerar danos psicológicos.
Para chegar a essa conclusão, os cientistas analisaram materiais com diversos relatos de mulheres com hiperêmese gravidica publicado nos últimos vinte anos. Tal análise mostrou que o prejuízo mental era tamanho, que muitas delas chegavam a ter pensamentos suicidas.
Na tese, publicada no British Journal of Midwifery, Caitlin Dean, Katrina Bannigan e Jonathan Marsden identificaram quatro sintomas consequentes da hiperêmese gravídica que podem estar relacionadas à saúde mental: a isolação social; a incapacidade de cuidar de si mesma ou dos outros; os efeitos psicológicos negativos, como a depressão e a culpa; e uma sensação de estar morrendo, de querer morrer ou o desejo de abortar.
Eu tive hiperêmese gravídica e sofri MUITO durante os 4 primeiros meses da gravidez. Não conseguia curtir o fato de estar gerando um filho, não queria sair da cama (me sentia incapacitada de fazer qualquer coisa), passei por um período depressivo do qual tinha dúvidas se realmente queria continuar com a gravidez, tinha a CERTEZA de que nunca mais queria engravidar devido a todo o sofrimento que eu estava passando, eu salivava DEMAIS ao ponto de ter que ter um copo para cuspir a saliva toda hora (a saliva, inclusive, também me causava enjoo), e perdi alguns quilos pois não conseguia comer nem beber nada que eu já vomitava – além de vomitar também com qualquer cheiro DOCE que eu sentia (inclusive o cheiro da minha casa ou o da pele do pai do meu filho).
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A hiperemese torna a vida da grávida muito difícil. Curtir a gravidez, então, nem pensar. A mulher pode se sentir sozinha e se afastar dos outros e do parceiro, cuidar de si mesma e da família é impossível, durante semanas ou até meses. Infelizmente, há pessoas e até profissionais da saúde que ainda não entendem de fato o que a grávida está passando. A falta de conhecimento sobre o assunto é grande. Ademais, a hiperêmese gravídica ainda não foi explicada, e os especialistas não sabem por que algumas mulheres têm mais tendência a sofrer dessa condição que outras.
Os fatores de risco são:
- Gravidez de mais de um bebê
- Ter mãe ou irmã que já tiveram hiperemese.
- Já ter sofrido de hiperemese numa gravidez anterior.
- Sofrer de enxaquecas ou de enjoos quando anda de carro, avião ou barco.
- Estar acima do peso no início da gestação.
- Ter histórico de náusea com anticoncepcionais com estrogênio na composição.
O impacto da hiperemese pode persistir por muito tempo. Normalmente, quem a teve não consegue nem pensar em ter outro bebê no futuro (ou pelo menos por um bom tempo).
Felizmente, não é uma complicação muito comum na gravidez. Ela dá sinais logo no princípio da gestação, com 5 semanas, e costuma começar a melhorar a partir da semana 16 (que foi o meu caso). Na maioria dos casos, na metade da gestação ela já foi embora, mas há situações (raras) em que os vômitos persistem até o bebê nascer (o que pode ser muito angustiante).
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Há gestantes que precisam ser hospitalizadas para tratar a desidratação recorrente do excesso de vômitos, pois nada para no estômago: nem água e nem comida. No meu caso, eu fui hospitalizada uma vez para tomar soro na veia pois nada parava no meu estômago e eu me sentia muito fraca. Fui aconselhada pela minha ginecologista e obstetra a comer algumas bolachas de água e sal logo pela manhã, pois isso poderia aliviar os enjoos e a sensação de fraqueza que eu vinha tendo, por não conseguir comer nada durante todo o dia. Remédios para enjoo e antiácidos também me ajudaram bastante (quando eu não os vomitava também).
Os sintomas da hiperêmese gravídica são:
- muita sensibilidade a odores;
- grande produção de saliva;
- vômito várias vezes por dia;
- vomitar tudo o que bebe e come;
- estar emagrecendo;
- estar desidratada e
- não conseguir usar medicamentos antieméticos pois os vomita.
Se esses sintomas fazem parte do seu dia a dia, e os vômitos e enjoos estão insuportáveis, fale com o seu médico. O tratamento precoce pode evitar a hiperemese mais grave. Às vezes, é preciso mudar de obstetra, pois alguns podem achar que se trata apenas da náusea comum da gravidez. Ou ainda, o médico irá averiguar se não se trata de alguma outra causa.
Por fim, não se desespere! Depois que a hiperêmese gravídica vai embora, a vida vai ganhando cor novamente. Você começa a aproveitar mais a gravidez, se sente mais disposta e animada para ir atrás de tudo que o bebê vai precisar, e de todos os outros preparativos para a tão esperada chegada do novo integrante da família. Hoje me lembro tudo que passei e só consigo agradecer por tudo ter dado certo, e de ter meu pequeno em meus braços: cheio de saúde e em um ambiente repleto de amor. Mas continuo NÃO querendo saber de outra gravidez tãããão cedo… (risos)